quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Saudade de ti
Não adianta esperar que alguém entre pela porta.
Não basta haver saudade para que se conquiste o afeto,
nem mesmo deixar que o coração se agite, aflito.
Todo fato consumado tem sua consequência.
Não queiras enganar tua dor, pois haverá de doer.
Nem mesmo imagines que a saudade há de sumir,
pois ela ficará ali, latente, incomodando o pensar.
A ausência será tão dolorida que será presença.
Não te iludas, a tristeza não é fugaz.
E haverá de fugir do controle de tua razão.
E não imagines que, com rebelião, afastarás a dor,
pois haverá lembranças, pedaços e cacos.
Não te faças de tolo a construir discursos,
pois que as palavras já foram gastas.
Não tentes uma cena, pois a atriz principal se foi,
perdeu-se ao sair pelo batente da porta.
Ganhou, em passos velozes, a trilha das ruas.
Fugiu de si, fugiu de ti, pois que perdeu-se.
Não se encontrou em meio ao amor desfeito,
não quis esperar para aguardar o fim.
Apenas te olhou, sentida, procurou os teus olhos,
não encontrou o teu olhar, e não sei se disse adeus.
Talvez não tenha dito nada, pois pouco valia dizer
se o coração já se fazia dolorido e esvaziado.
Então não resta nem mesmo a magia, o imprevisível,
mas apenas papel, caneta, um bloco onde se jogam versos,
pedaços de si, retalhos do que um dia foi tudo,
numa inspiração atropelada pela saudade.
O beijo se foi, os lábios se foram, o olhar esvaiu-se.
A presença cheia de graça agora é só incômodo lembrar.
Porém, é lembrança necessária, pois que é apego,
pois que foi flor colhida ainda em botão.
Foi afeto que se fez luz e se apagou.
Foi paixão que não chegou a ser amor.
Foi bom e foi ruim, assim como insuficiente.
Daí a lágrima, daí o desejo de voltar.
Gilberto Brandão Marcon
10/10/2009
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