Luís acha que Sandra está confundindo os sentimentos
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Após aquela ligação, Luís pediu que eu fosse à reunião e me juntasse a outras pessoas que, saudosas, queriam ouvir mensagens de seus entes. Esperei ansiosa pela minha vez. Aproximei-me em silêncio e ele me encarou, sério. Fechou seus olhos, abaixou a cabeça e apertou forte minhas mãos. Não demorou muito para que algo acontecesse. "Sandra, não tenha medo...quero seu bem", murmurou.
Fiquei olhando para ele. Então, prosseguiu: "Eu estou em paz. Você tem uma vida pela frente a seguir", completou, segurando ainda mais forte minhas mãos. Comecei a chorar. "Gui, me perdoe!", gritei de repente, para espanto de todos na sala. Luís levantou o rosto. "Acalme-se!", falou. Aos prantos, levantei e fui em direção da saída. Ele veio atrás.
"Sandra, o que está acontecendo?", perguntou, segurando meus braços. "Desde que você veio pela primeira vez tenho notado que me olha de um jeito diferente do das outras pessoas. É isso mesmo?", quis saber, controlando o quanto podia o tom de sua voz."Eu não sei!", respondi, atirando-me nos braços dele. Ele me apertou forte contra seu peito. "Tenho pensado em você. Não deveria, mas tenho...", continuei, soluçando cada vez mais alto. Alguns minutos depois, estava no banco de passageiro do carro dele. Luís havia se oferecido para me levar para casa. Em seu lugar, deixou um outro rapaz, que também liderava o grupo.
Iva já dormia quando cheguei em casa. Chovia forte. "Entre, eu sirvo um chá quente", convidei. Ele topou e logo estávamos com nossas xícaras, sentados cada um numa poltrona da sala. "Posso?", perguntou, pegando um porta-retrato com uma foto minha com Guillermo e nossa filhinha. Fiz sinal de positivo. "Que família linda!", comentou, com um sorriso sincero. Fiquei em silêncio, olhando para a janela, observando a chuva forte. "Sandra, seu marido morreu e não vai voltar. Apenas tento ajudá-la, captando alguma mensagem", explicou, com calma.
"Mas não posso ir além disso." Tomei um gole de chá. Minhas mãos trêmulas quase fizeram com que derrubasse a bebida quente sobre meu colo. Meio hipnotizada, me aproximei dele, que ficou parado. Dei-lhe um abraço e inalei seu perfume cítrico. Senti o calor do pescoço e as mãos acariciando meus cabelos. "Está tudo bem", balbuciava, enquanto eu chorava em seus ombros. Lentamente, subi meus lábios da nuca para o rosto dele e dali para a região de sua boca. "Sandra, você..." Antes que terminasse a frase, beijei-o.
Forcei meus lábios contra os dele enquanto minhas mãos alisavam com força e desespero suas costas. Ele não abriu os lábios. Tranquilamente, afastou meu rosto do seu. "Você está confundido as coisas. Sou um homem casado. Só se impressionou comigo porque lhe trago mensagens do Guillermo. Acha que eu sou ele, mas não sou. Ele morreu e sou outra pessoa, Sandra!", disse, de repente, como que numa terapia de choque. "E além do mais amo minha mulher, assim como você adorava seu marido", completou, antes de ir embora. Senti um vento entrando pela sala e um calafrio na espinha. Era um sinal. Um sinal de que eu estava mesmo enlouquecendo.