O marido de Sandra vai jantar na casa da mãe, mas ela prefere ficar com a filha. De repente, um telefonema avisa que seu amor sofreu um grave acidente
Publicado em 11/12/2010
Carminha Nunes
Conteúdo do site VIVA!MAIS
Quem levou Sandra ao centro foi uma vizinha
Foto: Getty Images
Foto: Getty Images
Fiquei uma semana na casa de mamãe, recuperando-me do baque. Ela e minha irmã me ajudavam a cuidar de Iva. Às vezes, a pequena olhava ao redor do berço, como que esperando o seu pai aparecer. A cada dia que passava eu ficava ainda mais grudada nela. Minha filhota era, mais do que nunca, o meu bem mais precioso. Era a minha ligação com Guillermo. Que bom que ela estava bem, com saúde! Eu, em compensação, não melhorava. Sem apetite, chorava baixinho todas as noites.
Emagrecia a olhos vistos e passava a maior parte do tempo vendo fotos minhas com Guillermo. "Nosso primeiro piquenique. Eu, San e Ivinha", havia escrito ele numa. Beijei-a com melancolia. Dias depois, senti-me forte o suficiente para voltar para casa. Minha irmã decidiu ficar comigo um tempo e ajudar até que eu superasse a perda. Espalhei a colônia de Guillermo pela casa, nos lençóis. Era uma maneira de tê-lo ali comigo, todo o tempo. Também espalhei sua roupa por cima da cama. Meu homem tinha bom gosto e adorava vê-lo colocar a gravata, o terno.
Emagrecia a olhos vistos e passava a maior parte do tempo vendo fotos minhas com Guillermo. "Nosso primeiro piquenique. Eu, San e Ivinha", havia escrito ele numa. Beijei-a com melancolia. Dias depois, senti-me forte o suficiente para voltar para casa. Minha irmã decidiu ficar comigo um tempo e ajudar até que eu superasse a perda. Espalhei a colônia de Guillermo pela casa, nos lençóis. Era uma maneira de tê-lo ali comigo, todo o tempo. Também espalhei sua roupa por cima da cama. Meu homem tinha bom gosto e adorava vê-lo colocar a gravata, o terno.
Os calmantes, o apoio de meus pais e dos amigos me ajudaram a superar os momentos iniciais da nova condição de viúva. Mesmo assim, por mais que quisesse tentar voltar ao normal, não conseguia. A insônia havia tomado conta de mim e, às vezes, sentia-me tão mal que não tinha forças para fazer um agrado em meu bebê. "Tenho um amigo que participa de um grupo espírita. Ele é médium. Acho que pode ajudá- la a se conformar com esse turbilhão que colocou sua vida de ponta- cabeça", disse-me uma vizinha. No meu desespero, queria ajuda, não importava de quem fosse.
Aceitei seu convite e fui conhecê-lo. Luís era um rapaz novo, de cerca de 30 anos, de estatura baixa e olhar muito sereno.Advogado, reunia-se com aquele grupo uma vez por semana. Foi extremamente gentil quando me aproximei. "Sandra, seja bem-vinda. Faremos o possível para tranquilizar sua alma", disse, pegando em minhas mãos com uma ternura fraternal. Numa grande sala branca, senteime junto a várias pessoas de olhar desesperado e triste. Luís sentou-se à frente de todos nós. Então, respirou fundo e fechou os olhos. Senti um estranho arrepio.
Todos nós começamos a fazer uma oração guiada por um integrante do grupo. Aos poucos, passei a me sentir mais relaxada. Foi então que ele pediu para que um dos presentes se aproximasse dele. "Eu estou bem!", disse. "Cuide bem da Solange e do Igor e não os deixe mais faltar à escola", sussurrou, baixinho, com uma serenidade fora do comum. A mulher começou a chorar. Eu também. "Diga a ele, por favor, que vou tomar conta de nossos pequenos", falou a mulher, que, pelo jeito, havia tentado várias vezes falar com seu ente querido.
Os olhos do médium se ergueram e me encontraram. Ele fez um pequeno movimento com os dedos. Levantei- me toda trêmula. A cada passo que dava em direção àquele homem tão misterioso era tomada por uma sensação mais e mais estranha. Era medo, ansiedade, emoção... Tudo ao mesmo tempo. Frente a frente, ele me olhou e franziu a testa. "Eu te amo, minha Sandrinha!", murmurou, apertando as mãos de uma mulher atormentada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário